Ser legal e suas chatices

Li um artigo faz mais de um ano e lembro dele praticamente todos os dias. Não exatamente o que estava escrito, mas o contexto todo da coisa. Era meio que um conto sobre a vida extremamente chata de um cara que era legal com todo mundo. O ponto era esse. Ser legal. Desde quando li esse artigo penso sobre a chatice que é isso. Não a parte de ser legal, mas sim a parte de “manter-se” legal. É bizarro. São algumas muitas coisas que acontecem que te levam a explodir. Porque você, de fato, é alguém legal. Mas isso começa a te encher o saco quando você percebe uns detalhes idiotas mas que na somatória total fazem total diferença. Você é a primeira pessoa a ser citada quando o assunto é organizar uma festa ou sair para beber com os amigos. Em compensação, é o último a ser notado quando precisam de alguma opinião ou, sei lá, quando é preciso ser tomada alguma decisão de grande importância. Ok, beleza, pode parecer muito radical pensar sobre isso e muitas vezes soar como um drama mal feito de um deprimido qualquer. Mas parar pra analisar os fatos, com certeza, vai te encher o saco. Isso sem contar o quanto você é legal ATÉ QUE cometa qualquer erro completamente estúpido, sem querer e bem pequeno perto do tanto de coisa realmente chata que você já engoliu de Deus e do mundo. É engraçado pensar isso mas as pessoas que parecem ser as mais legais são as que mais penam com essa parada. E fora isso, ficam nesse sofrimento em silêncio sem contar pra ninguém. Parei pra observar as pessoas que convivem comigo todos os dias antes de escrever sobre isso. São pessoas absurdamente legais. E ridiculamente dependentes umas das outras. Isso é bom pensando em uma equipe ou algo do tipo. Mas ao mesmo tempo chega uma hora que você cansa desse negócio de “deixa pra lá”. Deixar para lá? Até quando? Percebo cada vez mais pessoas sorrindo porque simplesmente TEM QUE sorrir e não porque QUEREM sorrir e, porra, isso é desesperador. Vivemos hoje em um mundo na qual a relação humana é uma das últimas – se não a última – coisa que tem importáncia, visto que vale mais uma mensagem respondida na droga do celular do que um “como você ta?” dito cara a cara. Isso sem contar no quanto você, aderindo as medidas desse padrão chato de hoje em dia, responde mensagem sem querer responder, faz média com aquele cara que você mais acha idiota e finge em quarenta mil grupos de conversa o quanto você está feliz e satisfeito com você mesmo, quando na verdade a única coisa que você quer fazer é fugir para uma praia deserta e passar uns bons tempos podendo ser ninguém além de você mesmo. Você. Esse é o ponto. Reparo cada vez mais o quanto as coisas tem acontecido “fora” ao invés de “dentro” e isso é bem esquisito. Tanto é que, por fora, você é o cara mais legal do mundo quando por dentro se sente um mané qualquer. Até ai, tudo bem. Você sabe relevar as coisas e não se importa muito em “não dar sua opinião em algo importante” ou então de não ser convidado para uma reunião onde todos – todos mesmo – os seus amigos estavam organizando algo. Cansa. As pessoas legais também cansam. As pessoas legais também sentem vontade de sumir do mundo. As pessoas legais também ficam exaustas e, sobretudo, elas também cansam de somente ouvir o “lenga lenga” da sua vida chata e estagnada quando na dela acontecem milhares de coisas incríveis e ninguém nem sonha que isso aconteça. Sinceramente? Parei para reparar no quanto isso acontece em mim e no quanto eu também faço isso com alguém ou sei lá. E percebi que todo mundo pode ser ouvido e todo mundo pode falar também. Nessas horas “chatas”, pessoas “legais” realmente fazem a diferença. Senso. Sabe aquele negócio de “ter noção” das coisas? Pois é. Além de estar de saco cheio de ser legal e de ter noção em dobro de absolutamente tudo o que acontece no dia a dia, perceba o outro. Juro, é besta mas faz total diferença. E outra que ninguém merece uma vida inteira sendo SÓ legal. É preciso de um devaneio ou outro pra dar graça. Um desabafo, umas boas merdas ditas ou, como no meu caso, um blog pra colocar pra fora esse turbilhão que acontece aqui dentro. Dentro. Sempre dentro.

Ser legal e suas chatices